7 de maio de 2016
Quem fica parado cai, quem se movimenta prospera: lições que valem com ou sem crise
As últimas semanas foram pródigas em movimentações no varejo brasileiro. Apenas para citar alguns exemplos deste mês de dezembro, a Pague Menos vendeu 17% de suas ações para um fundo de investimentos; o empresário Flávio Augusto da Silva recomprou a rede de franquias Wise Up por 40% do valor pelo qual havia vendido há dois anos; o Pão de Açúcar vendeu alguns de seus postos de combustíveis em São Paulo; o Walmart disse que pretende fechar 30 lojas nos próximos meses; a Restoque cortou sua expectativas de abertura de lojas; e a International Meal Company (IMC) anunciou o fechamento das lojas de quatro redes de alimentação em shopping centers.
Em um ano de retração nas vendas, é natural que esse tipo de movimentação aconteça. Algumas empresas buscam fundos de investimentos para financiar sua expansão e, para quem trabalha em dólar, os ativos brasileiros ficaram muito mais baratos nos últimos 12 meses (com boa possibilidade de ficarem ainda mais atraente nos próximos meses), enquanto outras companhias reavaliam suas estratégias, se desfazem de operações e buscam otimizar os recursos que têm. Normalmente, este é um período de ser mais cauteloso e evitar uma exposição desnecessária a riscos.
Momentos como o atual mostram como algumas decisões tomadas no passado foram grandes erros. A recompra da Wise Up, por exemplo, foi um excelente negócio para o fundador (e agora novo dono), que fez dinheiro “na ida” e “na volta”. Para a Somos Educação (ex-Abril), mostra que os planos audaciosos de 2012/2013, quando os sinais de problemas já eram visíveis, tiveram como base muita esperança e pouco pé na realidade. Já os postos de combustíveis fora de hipermercados, no caso do GPA, nunca se mostraram relevantes. Poderíamos ficar o dia todo citando exemplos.
O processo de reavaliação de ativos e venda (ou fechamento) do que não dá retorno deveria ser uma constante. Eric Ries, em seu livro “A Startup Enxuta”, sugere uma abordagem para os negócios baseada em testes contínuos e avaliação do mercado. Caso um produto ou serviço se mostre inviável, é melhor, para ele, abortar logo a ideia do que insistir em algo que, com sorte, dará retorno em longuíssimo prazo. Essa dinâmica tem muito a ver com a “barbatana de tubarão” do desenvolvimento de negócios apresentada no livro Big Bang Disruption, de Larry Downes e Paul Nunes: testes, testes, testes, um negócio que “bomba” e em pouco tempo morre para ser substituído por outro que vinha sendo testado. Quem fica muito tempo apegado à mesma ideia acaba não conseguindo entrar nessa dinâmica dos negócios.
Se é preciso reavaliar sempre os negócios e descartar o que não está funcionando (uma espécie de versão mais ampla do ditado “custo é que nem unha: é preciso cortar um pouco todo dia”), é preciso aceitar que a estabilidade é uma exceção e que a condição normal para os negócios é a instabilidade. Por falar em instabilidade, negócios são como andar de bicicleta: quem ficar parado cai; só continua quem está em movimento.
Então aceite que as mudanças não são apenas inevitáveis: elas são parte do jogo. Com crise ou sem crise, é preciso sempre fazer a poda daquilo que não dá frutos e enfraquece a árvore toda.
Renato Müller é co-founder da Käfer Content Studio.