2 de setembro de 2016
Quando pensamos no que pode vir a ser o futuro do varejo, o caminho natural é pensar nas transformações provocadas pelas inovações tecnológicas. Como somos bombardeados diariamente pela comunicação via smartphones e já vislumbramos o uso de recursos como Realidade Virtual, Realidade Aumentada, Impressão 3D, beacons, reconhecimento facial, biometria, wearables e todas as possibilidades do omnichannel, facilmente podemos nos maravilhar com as possibilidades que o “admirável mundo novo” do varejo trará nas próximas décadas.
Mas varejo é, no fundo, “back to the basics”, é chão de loja. É gente, olho no olho. E nos próximos anos, veremos cada vez mais rugas ao redor desses olhos. Segundo o Instituto Brasileiro de Varejo e Estatística (IBGE), a população idosa triplicará no Brasil entre 2010 e 2040, saltando de 19,6 milhões de pessoas para 66,5 milhões e chegando a 29,3% do total de habitantes do país. A expectativa é que, em 2030, o número de pessoas com mais de 60 anos ultrapassará o de crianças até 14 anos.
O Brasil sempre teve uma população idosa muito menor que a de jovens, mas uma série de fatores, como a maior expectativa de vida e a redução na taxa de natalidade, tem modificado nosso padrão etário. Isso significa que as pessoas estão demorando mais para ter filhos, tendo menos crianças e vivendo mais, o que impacta inúmeros aspectos da vida. A questão da idade de aposentadoria talvez seja a mais visível (já que tem sido debatida em Brasília) e, sozinha, gera imensas discussões. Mas o impacto do envelhecimento da população vai muito além disso: com os avanços na saúde e o aumento da preocupação com qualidade de vida, não apenas teremos mais idosos no futuro, como eles serão muito mais ativos.
A chamada Geração X, nascida nos anos 60 e 70, estará nas próximas décadas na chamada terceira idade e que demandará acesso não apenas aos produtos e serviços de que dispõe hoje, como também a uma série de novas categorias, especialmente aquelas ligadas a saúde e lazer. É uma população que continuará trabalhando, provavelmente como empreendedor. Um público exigente, vivido, que buscará manter o padrão de vida conquistado ao longo da vida, com adaptações necessárias para quem já não tem a disposição de seus 30 ou 40 anos.
Em um futuro que certamente será repleto de tecnologia, cuidado para não deixar de lado cerca de um terço da população, justamente a parcela com maior renda. É lindo pensar nas traquitanas tecnológicas, mas será que elas terão apelo com o seu público?
Renato Müller é co-founder da Käfer Content Studio.
Publicado originalmente em O Negócio do Varejo